3 de jun. de 2010

Bufo

























Daqui há poucos instantes ele vai discursar. Uma platéia formada por doutores, mestres, universitários, jornalistas, políticos, autoridades e curiosos aguardar ansiosa para escutá-lo. Aquele homem, o mais poderoso do Estado, levanta e se dirige ao microfone como quem está preste a criar mundos apenas com as palavras. No momento que ele se posiciona, pronto a pronuncia seu discurso de Cícero, o murmurinho cessa. O silêncio solene se faz para a voz de alguém importante ecoar pelo auditório.

_... E hoje o Estado do Rio de Janeiro possui uma administração eficiente, transparente e pronta para enfrentar os desafios desse século! Muito obrigado a todos, e estou aberto para as perguntas dos presentes.

Um dedo erguido e pintado com esmalte de uma cor daquelas que ser nenhum no mundo distingue pediu a vez. Prontamente o mediador levou o microfone até a mulher.

_ Bom dia meu nome é Maria do Lamento, e gostaria de perguntar ao senhor o que você acha da ementa IBSEN?

Todos os presentes mexeram em suas cadeiras, como se algo esperado durante todo o evento estivesse para acontecer.

O homem mais poderoso do Estado do Rio de Janeiro deu um sorriso de hiena, e antes de iniciar a resposta ajeitou o nó da gravada como se ela o enforcasse.

_ Bom acho que... Acho que é um deboche! Veja bem, é que...
Algo o vez parar. A voz foi atropelada por um soluço e os olhos marejaram em busca do lenço na mão trêmula. Os fleches das câmeras fotográficas dispararam freneticamente. Os ouvintes novamente silenciaram. Mas agora, não era a voz de um governante que impunha uma quietude de beata. O que calava as vontades era o choro do homem mais poderoso do Estado. Decidiu choroso dá fim a sua palestra, suas lágrimas falavam por ele e sobre sua derrota política.